TANTOS CORPOS

Em algum ponto me perdi... e tenho tentado me achar de uma forma que na verdade nunca deixará que eu possa me encontrar.
Tenho conhecido tantos tipos de corpos, uma variedade, mas não consigo me fixar em nenhum de verdade, porque me esqueço de observar o olhar que eles carregam e com isso vou me deixando de lado e me abandonando num labirinto fechado.
Entra dia, sai noite, e todos eles estão lá, desfilando na minha frente, deitados na minha cama, corpos carentes, desesperados e inconseqüentes.
Não encontro em nenhum deles a verdade; nenhum deles, quando parte, me deixa saudade. Existe um entra e sai na minha cama, uma insônia, uma tempestade que me ronda...

Tornei-me frio, gelado, vazio, alquebrado de emoções, insatisfeito nas minhas ilusões, tornei-me distante de carinhos verdadeiros, desaprendi a entregar o meu corpo por inteiro, nem sequer mais sei dar e diferenciar um beijo verdadeiro.
Quando o dia amanhece nunca sei ao certo o nome de quem está ao meu lado, porque naquele instante, para mim, ela já é passado. Na verdade jamais ela conseguiria ser futuro. Não passou de um tiro no escuro.
Naquele momento quero fugir, me livrar daquela companhia, quero não ter que me lembrar se foi bom ou ruim, se valeu apenas ou se de nada valeu, enfim.

Naquele instante quero estar só, curtir a minha solidão, ficar na minha escuridão, encarar a minha insatisfação.
Tem sido tantos corpos que tenho degustado, tantos corações que tenho abandonado... porque tenho o meu próprio coração maltratado. Porque decidi — e nem sei a razão — que sou um homem frio e sem emoção.
Mas tem sido tantos corpos, tantas bocas, tantos retalhos de prazer... e para quê?
Companhias não preciso mais, delas estou farto, o que me falta, o que preciso correr atrás, é de uma companheira, aquela mulher que me venha por inteira, com amor, tesão, carinho e atenção e que depois, então, consiga despertar tudo isso também no meu coração.

Não tenho recebido carinhos sinceros e não é assim que eu quero. Também não tenho devolvido nada que valha a pena a ninguém, e isso tem tido um preço, porque eu me esqueço de olhar nos olhos de alguém, de ver mais além, de sentir a sinceridade, de provar o gosto da verdade, de dar e receber um carinho com vontade, de depois que o dia amanhecer e Ela se for, eu sentir saudade.
Não tenho tido tempo pra distinguir entre o olhar que só me devora com desejo e o que me segue com carinho, o que me reserva apenas um momento de prazer e o que jamais me deixaria sozinho.
Não tenho conseguido distinguir se com isso tenho me divertido ou sofrido, se o frio que a minha alma assola me dá força ou me devora.
São tantos corpos, tantas companhias... Todas, no fundo, como eu: frias. Não encontro na verdade aquela companheira, aquela que poderia seguir comigo a vida inteira, que saberia entender os meus defeitos, o meu gênio, o meu jeito. Aquela que conseguiria me olhar sem somente me desejar, aquela que também soubesse me admirar e que eu tivesse porque me dedicar.

Não encontro um corpo como eu gosto, que venha acompanhado de um coração que me cause emoção, que tenha uma cabeça que possa me satisfazer e me aceitar e me dizer: Estou aqui com você, por tudo e apesar de tudo pra iluminar o seu escuro, pra descongelar a sua alma e te mostrar o caminho da calma.
São tantos corpos... e aí me esqueço de procurar pelo olhar, pelo jeito diferente que alguém possa ter de me gostar.
Mas são tantos... tantos corpos que me cercam, tantas dúvidas também, tantos sonhos e não aparece ninguém que me faça bem, que permita que eu sinta aquele frio na espinha, que diante de mim se transforme numa menina e que na minha cama seja aquela mulher que todo homem quer.
